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Uma guria criativa, que sempre inventou brincadeiras e jeitos diferentes de resolver as coisas. Jornalista de profissão, dublê de arquiteta e decoradora, artesã e contadora de causos. Uma pessoa que detesta preconceito e discriminação.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Incluídos, excluídos e a jumentinha bonitinha

Um diálogo de final de noite, poucas palavras trocadas com meu irmão, me fizeram refletir muito ... Ele me disse que nunca contava determinados aspectos tristes da vida dele para ninguém, que procurava passar uma imagem de, sei lá, "bem nascido", de "família estruturada", pois não queria que sentissem pena dele, etc...



Isso me fez repensar minha vida, meus quase sete anos de análise com a psico, mãe/irmã, advogada, amiga, médica; enfim, essa brilhante profissional que é a Karla Nyland, e tudo que passei a entender o porquê de certas coisas. Realmente, ele só podia ser meu irmão mesmo, rs, rs. Há sete anos, quando cheguei no consultório da psico, achava que eu e meus irmãos éramos pessoas boníssimas, pois sempre acolhíamos os marginalizados, excluídos, enfim. Pois é, eu tive de me analisar por seis anos para aceitar que, apesar de arrumadinha, aparentemente dentro do "padrão" vigente, eu dava a mão nas brincadeiras de roda para a Olívia Palito, que vinha despenteada para a aula, magrinha, com remelo nos olhos, que eu (e meus irmãos também) sempre havíamos nos identificado com as minorias pois nós, cada um por um motivo, é um excluído. Nós não somos "Madre Teresa de Calcutá". Só nos identificamos com os nossos "iguais".



É, é muito difícil aceitar as suas perdas, se aceitar. O "Esculacho da vida real" é quase uma metáfora, uma senha que poucos "manos" sabem o porquê. Eu realmente só consigo me abrir com um ou dois excluídos, pois penso que, contando minha história, dou força e esperança para seguirem em frente. Tipo "se eu consegui, você também pode conseguir". A senha é esta. Na terapia eu morro de rir quando conto que tal pessoa me acha uma "guria alegre, cheia de vida...". Mas a terapeuta sempre me situa: "claro, você realmente, apesar de tuuudo, é alegre e cheia de vida. Tens teus momentos down, és muiito sensível, tens tuas fragilidades, que não são poucas, finge ser forte como um a rocha (rocha que foi dinamitada e colada com SuperBonder e durepoxi muitas vezes), és dramática, tens um jeito engraçado de contar as ' graças e desgraças'..."



Mas excluída ou não, fazendo parte da minoria ou não, o fato é que eu consegui meu lugar ao sol. Estou no meio dos "populares", dos incluídos e dos excluídos, dos dentro e de fora do "padrão". E procuro ser legal com todos, apesar da timidez. Muitas vezes me senti na historinha do 'Burro e o poço'... Mas isso é outra história. Meu irmão tá certo, não vale a pena falar nos 'dramanis' da vida para ganhar o Big Brother Brasil.



A história da jumenta bonitinha



Uma vez, passeando na floresta, a jumentinha atrapalhada e sempre faceira, não viu o buraco e caiu num poço fundo. Ficou dias ali chorando, sofrendo, gritando para alguém que passasse ouvir e salvá-la. Um dia um cavaleiro passeava por perto e ouviu o grito da jumentinha. Acendeu a lamparina na entrada do poço e encantou-se com a beleza da jumentinha. Pêlo lustroso, cheia de vida, forte para seguir viagens longas... Seria de muita serventia para um cavaleiro solitário como ele. Mas o cavaleiro, quando viu a profundidade do poço, teve medo e não quis se arriscar na empreitada de descer até lá e tentar tirá-la.



Pensando ser um pecado seguir viagem e deixar o animal sofrendo à mingua, decidiu que era até um ato cristão da parte dele atirar terra para dentro do poço para enterrar a jumentinha em vida. Mas o poço era tão fundo que ele desistiu de continuar e seguiu viagem. A mesma situação se repetiu mais duas vezes... E os respectivos cavaleiros tiveram os mesmos pensamentos, conclusões e atitudes. O último foi jogando terra sem parar (até para ninguém mais cair naquele poço).



Mas qual não foi a surpresa ??? A jumentinha surgiu acima da terra jogada, viva e ainda bonitinha. Ela explicou ao cavaleiro, que a cada pá de terra jogada por ele e pelos outros, ela subia com as patinhas para cima da terra jogada e assim foi subindo o poço. Esse cavaleiro até tentou se engraçar para a jumentinha. Disse que, de certa forma, ela estava viva graças a ele. Mas a jumentinha era jumenta, mas não era burra. Ela sabia muito bem que ele não era o cavaleiro certo. O cavaleiro certo seria destemido, desapegado de preconceitos, um cara do bem, de coração e mente abertos. Daquele tipo que não se assusta com qualquer "pocinho" que a vida apresenta no caminho.