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Uma guria criativa, que sempre inventou brincadeiras e jeitos diferentes de resolver as coisas. Jornalista de profissão, dublê de arquiteta e decoradora, artesã e contadora de causos. Uma pessoa que detesta preconceito e discriminação.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Um toque de amor

Vó querida, hoje, como em tantos outros dias, você me faz muita falta. Lembro da sesta do início da tarde, quando íamos para a cama, contar causos, dar risada, lembrar de passagens da tua juventude que me encantavam.

Lembra aquele baile que você foi e tua prima conseguiu ser tirada para dançar pelo cara mais bonito da festa mas que, por coisas de jovem, virou piada por que o carinha era gago ?? Você contava tudo de um jeito tão engraçado, era impossí
vel não rir. Teve aquela outra vez que tu entrastes no bonde e o passageiro ao teu lado tinha um jornal no colo e ele o levantava a cada minuto. Sempre curiosa você ficou encafifada e deu uma espiada para ver o que tinha ali... E era coisa de tarado mesmo... O dito cujo do cara estava para fora da calça, tapado pelo jornal... Ah, ah, ah, você ria me contando, mas garanto que na hora você ficou com vergonha e saiu de fininho...

Você e suas primas eram da pá virada, aproveitavam muito as festas e bailes que iam. Para a rígida educação dos anos 30 e 40, acho que você teve uma juventude feliz. Eu sonhava em crescer e ser como você, uma jovem feliz. O que eu não daria para que a gente passasse só mais uma tarde em nossas "cadeiras preguiçosas" embaixo das parreiras repletas de cachos de uvas rosa e pretas ? Matando a saudade, chupando um picolé de fruta, tomando um chimarrão, contando as novidades...

Eu te diria o que fiz nestes últimos 21 anos em que estivemos longe uma da outra... Tudo que aconteceu e eu não queria que tivesse acontecido, mas que enfim aprendi a ir levando, as coisas que sonhei e consegui alcançar, os sonhos que tive que guardar para uma próxima chance, enfim, eu te relataria os principais lances, as cenas mais importantes, os chutes a gol, as vezes em que errei o saque, tudo o que realmente importa na vida de uma pessoa. E eu tenho certeza de que você não acharia a minha história tediosa... Qualquer outra característica, menos tediosa.

Muitos acontecimentos impactantes, experiências surreais, uma história que foi do "futuro promissor" ao "nada mais a se esperar" e que girou novamente e atingiu "tudo é possível para aquele que crê". Ai vó, eu me tornei um ser exagerado, que adora um amor inventado, eu cheguei a largar tudo, carreira, dinheiro, canudo. Eu me perdi e me reencontrei, por tanto amar quase me perdi de mim. Pensei que tivesse aprendido a lição, tentei novamente, caí com a cara e a coragem no chão. Aprendi a nada esperar, a contar comigo e Deus, a ter fé em mim. Sei hoje, que o que vivi, talvez tenha sido necessário para meu aprendizado. Agora levo a vida na manha, procuro fincar meus dois pés no chão para não sair voando por aí, me seguro para não tropeçar.

Tento lembrar desse tempo em que eu tinha um sentimento quase infantil, havia o medo e a timidez, todo um lado que só você viu... Eu era tão jovem, mas perto de você eu tinha tudo, segurança, cuidado e amor. O que mais alguém precisa nesta vida ? E assim eu vou vó querida, dias sim, dias não, eu vou sobrevivendo com alguns arranhões. Eu sei, tenho este alento no coração, que a minha outrora juventude, sonhos e ingenuidade te encantavam. Gosto de lembrar daquele ser inexperiente, que acreditava em tudo. Penso que não consegui ser espoleta como você foi, mas tenho tanto de você em mim... Você era "cuidadora". Também me tornei, ainda que sem querer. Você era debochada. Também sou. Você era uma mistura de açúcar com pimenta. Tenho bastante deste tempero também.

Espero te ver, ainda que em sonho, me abraçando apertado, e eu sentirei teu cheiro de colônia Cristal ou Toque de Amor. O nome de um de teus perfumes é o que você representa na minha história: um toque de amor. Amo você para sempre, até a eternidade. Saudades de nós. Manda uma mensagem, diz como vão as coisas, se você e o vô se vêem por aí. Como estão, o que fazem, se aí é bom, ou se pode até ser melhor do que aqui. Não tenho medo, do escuro, mas deixe, as luzes, acesas, quando eu for ao teu encontro.