Quem sou eu

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Uma guria criativa, que sempre inventou brincadeiras e jeitos diferentes de resolver as coisas. Jornalista de profissão, dublê de arquiteta e decoradora, artesã e contadora de causos. Uma pessoa que detesta preconceito e discriminação.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Vida de verdade

"... Toco a vida pra frente, fingindo não sofrer... Mas o peito dormente, espera ..." Esse estrofe da música A Alma da Mulher do Zé Ramalho define muita coisa na vida de muita gente. Às vezes, não se é feliz, mas não se consegue fazer diferente, dar um giro de 180 graus. Às vezes, só o que se consegue fazer é fingir, tocar pra frente e esperar, tic-tac, tic-tac. Mais um ano, mais um dia, mais uma década. Talvez já seja tarde, para tanta coisa que se sonhou e não se conseguiu...
Talvez não seja para vc aquilo que vc quis. Talvez vc não mereça. Pode ser Karma, praga, lei da causa e efeito, sei lá, alguma coisa aconteceu lá atrás e te impediu de chegar onde vc queria.

E o que fazer com esse sentimento de derrota? Num mundo em que só se prepara as pessoas para a vitória, para ser um vencedor? E quando vc tentou, fez tudo que podia, que estava ao seu alcance mas não conseguiu o troféu? O mundo ocidental condena os perdedores, de qualquer espécie, ou em qualquer setor da vida, ao exílio. Por isso, a gente fingi. A gente fingi não sofrer, a gente fingi que nossa vida só tem vitórias, esconde as derrotas, celebra os ganhos e esquece as perdas. Mas a nossa alma não esquece, e cobra, cobra caro os sentimentos camuflados, secretos, escondidos, relatados apenas no consultório do terapeuta.

E tem mais. Se você ousar desabar por aí, dizer que levou um pé na bunda e tá doendo um monte, que vc tá com uma puta vontade de não ter nascido, de pular da ponte da Azenha no Arroio Dilúvio, sei lá, vc será taxado como louco. Além de perdedor, LOUCO. A vida tá assim: tem que fingir que se é um vencedor em tudo e que se é estupidamente feliz. Perdas e tristezas são muito mal vistos. O sentimento de ojeriza com estes temas é geral.

É por estas e por outras que eu tenho o Esculacho da vida real. Por que aqui, o que pega mal, é ser muito normal e feliz como comercial de margarina. Vida de verdade, tem vitória e tem derrota. Tem ganho, mas tem perda. Tem elogio e esculacho. Tem amor e ilusão. Tem paixão e pegação. Tem vida e tem morte. Tem o hoje e o amanhã. Pois o mundo gira. E quem tá triste hoje, pode gargalhar de felicidade amanhã.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Envelhecendo com bungee jump

Vivemos tão distraídos que não vemos os sinais de que não somos imortais. A cada dia um novo cabelo branco, mas ah, eu tenho tinta para pintar. A cada dia a pele mais cansada, mas minha geração já se beneficia dos ácidos retinóicos, dos peelings e liftings... Com uma boa maquiagem dá para parecer até 10 anos mais jovem. A cada ano que passa, um quilo a mais insiste em chegar. E não é massa muscular não.

Ao invés de sofrermos com o envelhecimento, deveríamos ficar contentes por não sermos mais tão bobos, tão ingênuos a ponto de servir de saco de pancadas para o mau-caratismo alheio. A juventude é poética, mas cá entre nós, dói demais em alguns casos... Deveríamos celebrar a chegada de uma época em que somos mais seguros de nossas capacidades e nossos talentos. Tudo aquilo que transcende à pele firme e viçosa da juventude.

Tanto sofrimento para lutar contra o fluxo natural da vida.Talvez seja porque, nosso coração, nossos pensamentos, não têm idade, não vêem o tempo passar. Os nossos sentimentos são eternamente jovens e, por isso, muitas vezes, não aceitamos nossa imagem refletida no espelho.

Se você vive enchendo seus dias apenas com tarefas e problemas, vive sem ver a vida passar, cuidado ! Pode ter um tremendo susto ao chegar aos 60 e ganhar o passe livre para idoso no ônibus.

Os sinais do tempo também não deveriam tornar as mulheres invisiveis. O tempo deveria parar e saudá-las. Ah! grandes damas, senhoras de seu destino, estenda-se o tapete vermelho para vê-las passar. Se cada ruga lembrar uma paixão, um momento de grande alegria, onde se vive intensamente e se é feliz pura e simplesmente, vale a pena viver e envelhecer.

O que nos reserva o envelhecimento?? Talvez um abismo, mas sempre você poderá montar seu bungee jump (saltar para o vazio amarrado pelos pés por uma corda elástica) e iludir o destino. Ao envelhecer, não tenha medo de amar e de se jogar. O abismo pode ser apenas um rito de passagem para você se renovar, se reciclar. Coloque botox na alma e no coração. Viva até o final com paixão.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O virtual e o real

Alguém já se deu conta da diferença entre o virtual e o real? Às vezes, uma modelo que fotografa bem, parece uma diva destruidora de corações nas capas de revistas. É só ter a produção adequada, com maquiagem e roupas certas. Aí, quando assistimos uma entrevista da mesma menina num programa de televisão, percebemos que “aquela diva” não passa de uma guria tímida, até meio retraída. Acontece.

Assim como acontece de alguém escrever bem, se comunicar bem nas letrinhas virtuais e, pessoalmente, ser tímida e fechada. Essa sou eu até perder a vergonha. Mas deve acontecer com outras pessoas também, com certeza. Até esse blog é uma tentativa de reduzir esta timidez, ao menos no meio virtual. Para algumas pessoas, escrever é uma maneira de se relacionar, se inserir, fazer parte.

As pessoas são diferentes. E penso que se todos fossem somente extrovertidos ou somente tímidos, o mundo seria tedioso demais. O que nos diferencia, o que nos faz querer desvendar o outro, certamente são as incoerências, as contradições. E no quesito contradição, penso que as mulheres são campeãs. Já nascem fazendo tipo, caras e bocas para fotos, se têm cabelo liso, gostam de fazer cachos; se os têm crespos, fazem escova progressiva para alisar; mesmo tímidas, sobem no salto e colocam batom vermelho... Vendemos uma imagem virtual totalmente diferente do real, mas conseguimos passar de um mundo para o outro com a maior naturalidade e incoerência possíveis. Mas os homens devem passar trabalho para entender estas diferenças... Será ?

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Os sonhos

Transcrevo abaixo algumas pérolas retiradas do livro "Nunca desista dos seus sonhos", de Augusto Cury. São frases que nos fazem refletir e repensar a vida.

* Você não precisa de sonhos para vencer um resfriado, mas precisará de muitos sonhos para suportar com alegria uma doença crônica, para superar com coragem um câncer, um enfarte, um acidente;

* Sem sonhos, as pedras do caminho se tornam montanhas, os pequenos problemas ficam insuperáveis, as perdas são insuportáveis, as decepções se transformam em golpes fatais e os desafios se transformam em fonte de medo;

* Se você tiver de desistir de alguns sonhos, troque-os por outros. Pois a vida sem sonhos é um rio sem nascente, uma praia sem ondas, uma manhã sem orvalho, uma flor sem perfume.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Quem tem um amigo nunca fica sozinho


Amizade, amizade .... Tem sentimento mais gratificante que a amizade? Cada um dá o que tem, quando está com vontade, se der vontade. A minha turma do Colégio Rosário foi responsável por grandes demonstrações de amizade que tive na vida.

Nos finais de semana, festas de sábado à noite, eu sempre dormia na casa da Cláudia ali no Menino Deus. Isso acontecia porque eu morava muuiito longe do circuito noturno, lá no Espírito Santo, bairro longínquo da Zona Sul. Numa dessas muitas noites nós inventamos de ir na Crocodilus (Croco para os íntimos). Eu já havia ido na Croco diversas vezes, mas naquela noite o juizado da Infância e Adolescência tinha mandado um fiscal autuar as danceterias da Avenida 24 de Outubro que deixassem menor de 18 anos entrar. Toda nossa turma estava na faixa dos 15 e 16 anos, mas havia um porém: todas minhas amigas eram altas, cerca de 1,70 metro de altura, e eu era a única baixinha.

Como não podia deixar de ser, minhas amigas passaram pela roleta sem ter que apresentar identidade, pareciam ter 18 anos, e quando chegou a minha vez, “barrada no baile”. O porteiro pediu minha identidade, claro, eu tinha 16 mas aparentava uns 13 anos... As outras meninas haviam passado e foram dançar. A Cláudia e o Vitinho, nosso amigo motorista, também conseguiram passar, mas resolveram voltar quando viram a minha situação. Eu disse a eles que ficaria esperando ali na entrada, que não havia problema, mas a Cláudia, sempre amiga e solidária, não me deixou na mão e disse “não, se tu não vais entrar eu também não vou” e o Vitinho, um gordinho muito querido, xingava as meninas que entraram e nem olharam para trás. Para nos consolar o Vitinho nos levou para comer um xis com fritas (argh!) e depois nos deixou na casa da Cláudia.

Naquela noite nós não chacoalhamos os jovens esqueletos, mas estreitamos os laços de uma amizade inesquecível. Quem tem um amigo nunca fica sozinho.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Rapidinhas DEP

Como sempre digo, vivendo e aprendendo... É muito produtivo, para o sexo feminino, prestar atenção em conversas masculinas. Esta semana ouvi o diálogo entre dois colegas. O mais velho, Paul, dizia ao mais novo, Jo, que o correto era a mulher dividir a conta do motel. Jo concordou que dividir as contas era um tema atual, mas ficou resistente ao posicionamento de Paul sobre a questão de dividir motel.
"Puxa, acho que motel é básico o homem pagar. Não dá para pedir a metade...", dizia o jovem Jo ao experiente Paul. Paul insistiu em sua posição. Para ele mulher tem que dividir a continha... Mas eu, muito metida, fiquei com medo que Paul estragasse Jo para sempre com aquela conversa e disse ao jovem colega, que se ele assimilasse aquela postura muquirana, nunca teria uma mulher decente. Com certeza tem muita gente que vai discordar... Mas opinião é opinião. Cada um tem a sua.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Adrianinha uh e o vô João


Antes que mais alguém pergunte por que meu e-mail é adrianinha uh e isso suscite mais dúvidas, eu explico. Pela família da minha mãe, eu fui a primeira neta, por quatro longos anos eu era a única criança da família. Como adulto tem mania de ficar bobo com criança, meu avozinho querido, o vô João, toda vez que me via fazia careta, batia palmas para mim e dizia "o que que a adrianinha uh tá fazendo? Cadê a adrianinha uh do vô???", e dizem que ele fazia isso o dia todo, e todo mundo ficava tonto com aquela história de adrianinha uh.

O fato é que eu fui crescendo, e para zoarem de mim, a família toda começou a me chamar de adrianinha uh. O apelidinho colou. Hoje só minha mãe fala assim de vez em quando. E eu, que nunca me interessei em ter Orkut, descobri que meu irmão o fez por mim agora no meio do ano. Para zoar um pouquinho, ele criou o e-mail do Orkut com esse nome: adrianinha uh. Depois que ele fez o meu Orkut, eu até passei a gostar. Ás vezes eu sou meio lenta para essas coisas, achava que meu Orkut nunca ia passar de 20 amigos e ia pagar mico, eh, eh, eh.

Mas voltando a falar do meu avô João, puxa, que pessoa importante na minha vida. Desde a lembrança mais remota, eu com cinco anos de idade, esperando ele chegar do serviço com dois bombons love me no bolso para mim. Eu ficava igual cachorro esperando o dono no portão. Mas ele não esquecia dos meus bombons. As idas ao cinema, a primeira vez no teatro, a companhia até o Colégio Rosário para eu fazer o teste de admissão para o segundo-grau... O gosto pela leitura de jornais e revistas, tudo isso aprendi com ele. Segundo meu pai, o vô João era a única pessoa no mundo que conseguia ler jornal, escutar rádio e o telejornal ao mesmo tempo. Acho que essa coisa de ser jornalista veio dele. Era muita informação para uma pessoa só, rs, rs.

Na minha formatura em jornalismo, eu e ele viajamos juntos para Santa Catarina. Era o presente que ele queria me dar de formatura. Estivemos em Canasvieiras e depois na Ilha de São Francisco do Sul, terra do meu querido vozinho. Fazia muitos anos que ele não visitava sua cidade. Ficou muito feliz em revê-la. Mas eu senti uma emoção diferente vendo aquela cidade portuária tão antiga. Aquelas ruas estreitas, prédios tombados, aquele clima tão antigo. E pensei que finalmente eu tinha visto um outro lugar ao qual eu pertencia: a terra dos meus antepassados. Amei São Francisco do Sul. E amei mais ainda meu avô, por entender de onde ele veio e onde ele conseguiu chegar...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Dody e a casa dos ventos uivantes


Hoje eu comecei a lembrar do meu cachorro, o Dody, e não pude deixar de ter um sentimento de gratidão pelos dez anos que passamos juntos. Só quem já teve ou tem um cão de estimação sabe que não existe amigo mais abnegado e fiel.

Lembrei de nós dois passeando pelo calçadão de Ipanema, eu tentando controlar aquele cão imenso e estabanado. O gari correndo atrás do caminhão de lixo com um saco na mão e o Dody escapando de mim para morder o glúteo saltitante do coitado do trabalhador. A sorte do gari foi ter conseguido pular na boléia do caminhão um segundo antes da bocarra do Dody saltar no ar. Naqueles segundos que me pareceram horas, eu só consegui pensar em quanto seria o pedido de indenização que o gari me pediria na justiça pelo glúteo arrancado...

Naqueles anos em que morei sozinha na casa do Espírito Santo, visada por todos ladrões e gatunos da região, ele foi o vigia mais competente e incansável. Eu nunca poderia expressar em palavras a aventura de uma moça morar sozinha numa casa de 150 metros quadrados somente com um cachorro de companhia. Eu, ele e o nosso morro dos ventos uivantes. É isso mesmo, em noites frias de inverno, o vento no morro do Espírito Santo fazia um barulho parecido com um uivo. As janelas, somente de vidros, sem persianas ou venezianas, aquele vento que parecia um lamento, a rua deserta na noite escura, o vizinho da esquerda era um casa que estava para alugar e o vizinho do lado direito era um mercadinho que fechava às 20 horas.

Sem vizinhos para pedir socorro, com aquele vento que fazia as janelas de vidro baterem, a escuridão da noite parecia lembrar filmes de terror. Quando o medo era maior que o meu orgulho, eu colocava o Dody dentro de casa para me fazer companhia. Ele me olhava bem nos olhos, me fazia um carinho e parecia dizer "fique calma garota, nada de mau vai te acontecer, agora eu estou aqui". E eu finalmente me entregava ao sono. Eu sabia que estava protegida. Eu não sei bem o porquê, mas naquele tempo todo, apesar de todo mundo saber que eu morava sozinha ali, os assaltos à casas pipocando em todo o bairro, nunca tentaram nada contra mim. Eu realmente estava protegida... Meu amigo, fiel escudeiro... Em julho ele morreu. Cumpriu a sua missão de vida. Me cuidou até o final.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Paixão de infância também ensina


Na minha família todos os três irmãos tiveram suas paixões de infância. Acho que estimulados pelo perfil passional da família, um estilo "família italiana". E eu nem poderei falar do Gustavo da meia preta, pois senão corro o risco de morrer.

Eu tive uma paixão (platônica, claro) dos 5 aos 7 anos pelo Leopoldo Loq Filho. Eu e o Leopoldo já nos conhecíamos do Jardim e continuamos colegas até a segunda série. A minha paixão foi surgindo por que o Leopoldo Loq e eu éramos os primeiros da fila (uma coincidência) e tínhamos as mochilas iguais (outra coincidência) e os olhos castanhos dele ficavam esverdeados com o reflexo do sol (lembro como se fosse hoje). Não riam pelos motivos da minha paixão, se paixão já é uma coisa louca para adultos, imagina paixão de criança... O fato é que desde aquela idade eu já me sentia sugestionada a me apaixonar pelas coincidências.

Mas o Leopoldo Loq e eu tivemos uma "química explosiva". Ele era um guri tinhoso, já havia sido expulso de uma escola no primeiro semestre da primeira série. Ninguém agüentava o Loq. A mãe dele implorou para a diretora da minha escola aceitá-lo. Até que um dia o Leopoldo Loq começou a reparar em mim. Mas não do jeito que eu queria... Começou a me perseguir no recreio, a me chamar de "Machadinho, Machadão, ah, ah, ah, ela é um Machadão, ah, ah, ah, ah". Em pouco tempo estavam todos "guris idiotas" do colégio me perseguindo e rindo da minha cara e eu fui me esconder na sala de aula para chorar de vergonha e raiva.

Mas nem na sala eu tive paz. A gang do Loq invadiu a sala e junto com eles várias meninas amigas minhas. No meio daquela algazarra, "ah, ah, ah, Machadão tá com medinho, Machadinho veio chorar, ah, ah, ah", eu tive um momento "Rambo" e surtei, me atraquei com o Leopoldo Loq. Puxei cabelo, arranhei, ele me chutou muito com aquele quixute horrível. E eu chorando e batendo, chorando e apanhando e as gurias gritando "acaba com ele Adriana, arrebenta esse idiota" e o idiota rindo, não saía uma lagrimasinha. Até que ele correu para o fundo da sala para continuar a gritaria. E naquele momento eu tive um dos momentos mais gloriosos da minha vida: peguei minha régua de madeira de cima da mesa e atirei em direção ao Loq. Mira certeira ou justiça divina, o fato é que a régua pegou o queixo do Loq, que na mesma hora caiu combalido e começou a chorar com um filete de sangue escorrendo do queixo.

Aquele momento foi a glória. Todas meninas me cercaram, me levantaram no colo e me elogiaram como se eu fosse um heroína. Risadas, palmas, sorrisos de pura felicidade. Todas meninas ali já haviam sido perseguidas pelo Leopoldo Loq. Mas a farra durou pouco. A professora apareceu e veio tirar satisfação do que havia acontecido, por que o Loq estava ferido, etc. Fizeram curativo nele e depois a gente ainda teve que pagar o mico de se pedir desculpas e apertar as mãos. Até hoje eu não sei se o Leopoldo Loq era masoquista, mas daquele dia em diante ele começou a me tratar como um princesa. Mas a minha paixão acabou naquele dia mesmo. Ali eu vi que não gostava de "química explosiva".

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Usando todas as armas


Uma amiguinha minha, de 83 anos, é uma fonte inesgotável de causos. Natércio, seu falecido marido, era boêmio, muuuuito boêmio. Ela, uma baixinha esperta, muito rápida, independente, moderna, uma mulher à frente de seu tempo, não podia ficar para trás do marido e usava todas as armas para tentar controlá-lo.

Para provocar o marido e deixá-lo com uma barata atrás da orelha, a minha amiga chegava em casa sempre depois de Natércio, cheirosa, maquiada e arrumada, dando a impressão de que tinha passado a noite na festa. Mesmo meio bêbado e cansado, Natércio xingava, brigava, dizia que aquela não era hora de “mulher dele” chegar em casa. Ela rebatia dizendo que se ele quisesse a mulher dele em casa ele teria de ficar em casa também, senão nada feito. Direitos iguais. Com medo de ficar com um peso e dor na cabeça, cheio de galhos pontudos e pesados, o precavido Natércio ficava dias em casa, longe da boemia, cuidando daquela mulher difícil de controlar.

Minha amiga conta isso rindo muito do falecido Natércio. É que na verdade ela esperava o marido toda arrumada, na escadaria do andar superior ao de seu apartamento, pouco antes das 4 da matina, horário em que ele costumava chegar da noitada. Depois que ele chegava, ela esperava passar uns 15 minutos e entrava na casa, com ar de cansada de tanto dançar, totalmente pronta para o combate. Ela mentia que estava com amigas numa casa de tango que havia em Ipanema na década de 60. Eu penso que minha amiga, sempre à frente de seu tempo, se dava a este trabalho, fazia tudo isso, por ser passional e apaixonada demais por seu marido para arriscar perdê-lo para outra mulher numa noite de boemia. No amor ela não era moderna nem independente. Mas será que alguém que realmente ama é?

domingo, 28 de setembro de 2008

Dedicatória


O Esculacho da vida real é dedicado a todos aqueles que já tiveram a impressão de terem a sua vida esculachada pelo destino... É dedicado aos românticos que sonharam com um amor, uma casinha com jardim e cerquinha branca, filhos bem criados; aos que já se sentiram excluídos, deixados de lado nas brincadeiras de roda, aos que tentaram fazer tudo certinho e o tiro saiu pela culatra.


Esculacho da vida real é dedicado às pessoas que tinham sua vida toda planejada, recheada de muitos sonhos e metas, e de repente, veio um trem descarrilado e os atropelou; mas mesmo assim não desistiram. Juntaram os caquinhos com super Bonder e disseram ao destino: você vai ter que me engolir !!! O Esculacho da vida real veio para que os esculachados pelo destino não esqueçam que foram escolhidos como exemplo de fé e resistência. Aqui os esculachados têm um lugar para rir das tragicomédias da vida real. Por que tem coisas na vida, que a gente só consegue superar fazendo troça.

Homem também se dá mal


A minha amiga Tetê é uma verdadeira força da natureza. Sério, se existir reencarnação, na próxima eu quero vir como ela. A Tetê já era minha amiga e vizinha, mas conquistou a minha eterna admiração numa viajem de ônibus até o trabalho...

A Tetê já estava há dias sofrendo uma dor de cotovelo por um tal "Mariozinho". Ligava para o celular do Mariozinho umas 40 vezes por dia e o cara nada. Ela já estava surtando, procurava o cara na night, chorava, soluçava e o cara nada. Pois nesse dia do ônibus, a Tetê estava naquela deprê, o Mariozinho tinha sumido e desligado o celular. Eu tentando, às sete e meia da manhã, consolá-la, mas as lágrimas rolavam sem parar e o ônibus todo já estava olhando. Foi então que aconteceu a façanha que eu não acreditava ser possível.O ônibus parou numa sinaleira, a Tetê começou a olhar pela janela e avistou um motorista bem gatinho no carro ao lado. Do olho esquerdo da Tetê, que ficava mais próximo de mim, duas lágrimas rolavam e do olho direito, totalmente seco, ela piscava e jogava beijinhos ao paquera recém conquistado. Foi a primeira vez que eu vi uma pessoa chorar e alegremente flertar, isso tudo simultaneamente. Mas em se tratando da Tetê, eu não deveria duvidar de nada...

Um dia ela conheceu um cara no Orkut e combinou de o cara buscar eu, ela e o meu namorado de carro para irmos ao Dado Bier. O cara nos pegou, conheceu a Tetê pessoalmente e disse: então, vc é a Vanessa... e eu, muito bocuda, "não, o nome dela é Tetê" e ela rapidamente emendou "sim querido, Vanessa Teresa". Nem preciso dizer que eu tive ímpetos de cair na gargalhada, o golpe já tava rolando...Lá no Dado Bier, acho que ela não gostou do cara, fingiu ir ao banheiro e arranjou outro para ficar. O coitado do Orkut rodou três vezes os salões do Dado e nos perguntou por ela umas dez. Eu com uma cara que não sabia onde enfiar. Até que a força da natureza apareceu, acompanhada, e na maior cara-de-pau pediu ao carinha do Orkut para pegar sua bolsa que tinha ficado no carro dele, pois ela iria sair com seu outro acompanhante. Pois não é que o carinha do Orkut ainda se prestou para entregar a bolsa à figura ??? Pô, o cara serviu de motorista para nós três, foi enganado, trocado e usado ... No mínimo, se fosse outro, jogava a bolsa dela no meio da Nilo Peçanha...

É por essas e por outras histórias que eu admiro a Tetê. Geralmente é a mulher que sofre, é enganada, trocada, etc. Saindo na companhia dela, a gente se sente vingada de qualquer sofrimento do passado. E também aprende que homem, apesar dos pesares, também sofre e se dá mal, rs, rs,rs.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Rapidinhas do DEP III


* Bah, e não é só velho que se arrebenta. Não é que nosso guri da informática, o super Jo, com apenas 23 anos, foi levantar um micro do chão e lá ficou. Pois é, a coluna do Jo travou e o guri tá de molho e não pode mais levantar nem um mísero palito de fósforo. Tomara que ele se restabeleça logo, pois o meu micro só funciona com ele, até parece que o guri é macumbeiro. Quando ele chega os trabalhos se abrem, o velho micro da comunicação volta a funcionar. Esse DEP tem cada coisa estranha...

* Um coleguinha nosso estreou sua primeira visita ao urologista e fez "aquele exame" que é motivo de piada entre os homens (bobagenzinha de homens, claro). Ele disse que foi tudo tranqüilo e que só não gostou da sensação do gel congelando suas partes. E o desinfeliz só pôde fazer a faxina quando chegou no DEP. Mas eu acho que o que ele menos gostou foi do preço do remédio que ele vai ter que tomar: 300 reais. Com esse valor ele já compraria uma calça da Forum que é a marca que ele usa.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Rapidinhas do DEP II

Só prá variar um pouquinho eu estava batendo meu ponto no final de tarde na UAA, com o Paulo, a Tamara e a Ângela. Papo furado prá cá, papo furado prá lá, eu estava a me queixar do meu pé esquerdo, que desde abril tá me dando problema. Não consigo mais usar salto, sinto uma dor tipo tendinite abaixo do dedão. Quarenta sessões de fisioterapia, exames, antiinflamatórios, coisa e tal. Comentei que tava apelando para tudo para resolver o problema.

Nesse momento a Ângela teve um lampejo de lucidez e resumiu a questão: "Adri, não esquenta a cabeça, na nossa IDADE começa a aparecer de tudo...". De novo foi aquela risada geral, todo mundo rindo da coroa aqui. Novamente fiquei com aquela cara de abobada que eu fico quando não entendo ou não quero entender algo. O quê, euzinha, Adrianinha, com problema de desgaste de peças, logo no pé ??? Putz, era só o que me faltava. Entrei na UAA com um problema no pé e saí com dois problemas: o do pé e o tal problema da idade. Credo!!!

Rapidinhas do DEP

Tava eu, o Paulo Guri e a Tamara dia desses, final de tarde, jogando conversa fora, falando de sites, fotos do orkut, etc. O Paulo comentou que eu era muito parecida com uma ex-nora dele. Eu fiquei faceira, a moça deveria ser bonitinha, coisa e tal, quando ele soltou o golpe fatal: "mas tu és menos feia que ela".

Puxa, por essa eu não esperava, fiquei com aquela cara de abobada que eu sempre fico quando não entendo algo direito e a risada rolou geral... Até hoje eu me pergunto se foi um "esculacho velado" ou uma "tentativa atrapalhada de elogio". Mas para não passar mais vergonha, prefiro nem perguntar...

Causo de família II



A Barata caçadora de dentes sujos


A mana era um terror para escovar os dentes. Até aí tudo normal. Os especialistas em psicologia dizem que na infância, anormal é ser muito caprichoso, pedir para tomar banho, etc. Mas eu tinha medo que a guria viesse a ficar banguela, conseqüência da falta de escovação diária. Puxa, eu não queria vir a ter uma irmã desdentada, só isso.


Dessa vez não achei nenhuma simpatia que fizesse o vivente ter tara por escovação. Tratei de botar a cachola para funcionar... Como eu já tinha um histórico de atitudes sádicas, a solução não ficou muito longe não. Hoje eu tenho até um pouco de vergonha, mas a verdade é que eu era um capeta com cara de anjo. Meus primos dizem que eu aprontava tanto, que tinham vontade de me surrar. Mas na hora agá, olhavam para aquela figura pequena e frágil, com carinha de anjo, e não tinham coragem de me pegar. Acho que até hoje eu me aproveito um pouco dessa aparência inofensiva ...


Mas a idéia que tive para fazê-la cuidar dos dentes foi tipo um tratamento de choque. Comecei a preveni-la de que ao dormir sem escovar os dentes, o mau odor proveniente da boca sem escovação atrairiam bichos e insetos caçadores de boca suja durante suas horas de sono. Mas teimosa como ela só, a guria não me dava ouvidos. Ria, debochava e ia dormir sem escovar os dentes. Até que eu matei uma barata e coloquei-a, bem ao lado de seu rosto, em cima do travesseiro, enquanto ela dormia.


Quando ela acordou e viu o bicho morto, gritou tanto de pavor que até me deu um pouco de remorso. Mas dizem que os fins justificam os meios, não é ? Vão olhar hoje os dentes dela. Estão todos lá, bem bonitinhos, sem faltar nenhum. Graças à barata caçadora de dentes sujos.

Causo de família I



A História do Pintinho massacrado

Eu e a mãe já estávamos preocupadas com o estado do guri. Tudo que era criança já falava gugu, dada, mã, com um ano de idade. Meu irmão mais novo já estava com dois anos e meio e só soltava gemidos e grunhidos, ahhh, gruuuu, nhééé. Eu, minha irmã do meio, Carla, e minha mãe puxávamos por ele e nada, só grunhidos.

No restante o guri até era normal demais. Um verdadeiro capeta. Montava o cachorro vira-latas da família, o coitado do Neves, como se o cão fosse um touro bravo, segurando as orelhas do desafortunado como se fossem rédeas imaginárias, e lá ia ele galopando o Neves no pátio da casa do Espírito Santo. Se a casa tivesse uns dez minutos de paz, podia ter certeza que nuvens escuras se aproximavam, denunciando a descoberta de mais uma capetice.

Mas voltando ao problema da falta de fala do guri, um dia nossa mãe chegou do Centro com uma revista de horóscopo e simpatias. Faceira que estava, me chamou e mostrou a solução para o problema. Segundo a simpatia da revista, para criança começar a falar, bastava arranjar um pintinho e fazê-lo piar três vezes dentro da boca da criança. Era tiro e queda, dali por diante a criança falaria tanto que iria tontear a família toda.

Como os médicos diziam que não havia nada de errado com ele, que havia de se esperar o tempo individual de cada criança para falar, eu pensei, “bom, mau não vai fazer, vou pedir para o pai mandar um pinto lá do sítio dele”. E assim foi feito. No outro dia o pai mandou o pintinho, bem amarelinho, novinho, bem pequenininho dentro de uma caixa de sapatos. Lá fui eu, a pioneira em simpatias, resolver o problema.

Meu irmão estava no pátio brincando, eu o chamei e pedi que abrisse a boca e ao mesmo tempo coloquei a cabeça do pintinho quase metade na boca da criança e torci para que o pinto piasse três vezes bem rápido. O pinto, que devia estar assustado, piou pela última e derradeira vez em sua breve vida. Meu irmão, que devia estar mais assustado que o pinto, fechou a boca em cima da cabeça do pobre, que ficou literalmente massacrado. Fiquei com o pinto desfalecido em minha mão e um baita remorso para tratar. Daquele dia em diante, a minha breve carreira de feiticeira deu uma longa pausa.

Com o tempo o guri começou a falar, talvez com medo que da próxima vez a gente aprontasse coisa pior, vai saber...