Quem sou eu

Minha foto
Uma guria criativa, que sempre inventou brincadeiras e jeitos diferentes de resolver as coisas. Jornalista de profissão, dublê de arquiteta e decoradora, artesã e contadora de causos. Uma pessoa que detesta preconceito e discriminação.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Dody e a casa dos ventos uivantes


Hoje eu comecei a lembrar do meu cachorro, o Dody, e não pude deixar de ter um sentimento de gratidão pelos dez anos que passamos juntos. Só quem já teve ou tem um cão de estimação sabe que não existe amigo mais abnegado e fiel.

Lembrei de nós dois passeando pelo calçadão de Ipanema, eu tentando controlar aquele cão imenso e estabanado. O gari correndo atrás do caminhão de lixo com um saco na mão e o Dody escapando de mim para morder o glúteo saltitante do coitado do trabalhador. A sorte do gari foi ter conseguido pular na boléia do caminhão um segundo antes da bocarra do Dody saltar no ar. Naqueles segundos que me pareceram horas, eu só consegui pensar em quanto seria o pedido de indenização que o gari me pediria na justiça pelo glúteo arrancado...

Naqueles anos em que morei sozinha na casa do Espírito Santo, visada por todos ladrões e gatunos da região, ele foi o vigia mais competente e incansável. Eu nunca poderia expressar em palavras a aventura de uma moça morar sozinha numa casa de 150 metros quadrados somente com um cachorro de companhia. Eu, ele e o nosso morro dos ventos uivantes. É isso mesmo, em noites frias de inverno, o vento no morro do Espírito Santo fazia um barulho parecido com um uivo. As janelas, somente de vidros, sem persianas ou venezianas, aquele vento que parecia um lamento, a rua deserta na noite escura, o vizinho da esquerda era um casa que estava para alugar e o vizinho do lado direito era um mercadinho que fechava às 20 horas.

Sem vizinhos para pedir socorro, com aquele vento que fazia as janelas de vidro baterem, a escuridão da noite parecia lembrar filmes de terror. Quando o medo era maior que o meu orgulho, eu colocava o Dody dentro de casa para me fazer companhia. Ele me olhava bem nos olhos, me fazia um carinho e parecia dizer "fique calma garota, nada de mau vai te acontecer, agora eu estou aqui". E eu finalmente me entregava ao sono. Eu sabia que estava protegida. Eu não sei bem o porquê, mas naquele tempo todo, apesar de todo mundo saber que eu morava sozinha ali, os assaltos à casas pipocando em todo o bairro, nunca tentaram nada contra mim. Eu realmente estava protegida... Meu amigo, fiel escudeiro... Em julho ele morreu. Cumpriu a sua missão de vida. Me cuidou até o final.

6 comentários:

  1. O Doddy foi um cão que te amou do início ao fim da vidinha dele. Foi teu amigo e companheiro, não reivindicando nada além de um prato de ração diário. Incrível como os cães reconhecem os seus donos. Ele era um cachorro brabo, mas você podia colocar a mão dentro de sua bocarra que ele não fazia nada. Bonita homenagem, mana!

    ResponderExcluir
  2. Puxa Adriana, não sabia destes teus predicados. Menina tu ta perdendo dinheiro vai tratar de lançar um livro, isto é sensacional, adorei cada uma das histórias, são fantásticas. ja sei até o nome do livro, "História do cotidiano, da vida real".Beijos sou louca por escrever um livro tb. tenho alguns poesias, que já da para lançar um livro. Vai em frente guria, dou-te força!

    ResponderExcluir
  3. Ah, Graça querida, obrigada pelos elogios tão amigos. Mas que tal tu fazeres um blog de poesias, com poesias tuas e de outros?? Pensa um pouquinho. Beijo.

    ResponderExcluir
  4. Muito emocionante esta história, ainda mais para os que adoram cachorros, como eu..Concordo com o comentário da Graça, escreve um livro!!
    bjs,Claudia

    ResponderExcluir
  5. Ah, Cláudia, assim eu até vou acreditar... A gente tem que se encontrar para bater um papo, falar de gente e de cachorros, rs, rs. Beijão.

    ResponderExcluir